domingo, 11 de outubro de 2009

LES ATRIDES - MAIS ARIANE MINOUCHKINE



No livro "Ariane Minouchkine, a arte do presente", que traz uma série de entrevistas realizadas por Fabienne Pascaud, no capítulo E o Soleil se põe a fazer tragédia, Ariane fala sobre e encenação de Les Atrides e teoriza sobre a tragédia. Começa falando de sua escolha em encenar a Orestéia e incluir Ifigênia em Aulis, transformando a trilogia em tetralogia. Declara que não sabia nada de tragédia clássica, "somente que não devia ser como as que havia visto quando era jovem, com lençóis e sapatos grandes. E vozes de além-tumba. Que aborrecimento!" Quando Pascaud lhe pergunta sobre que sentimentos novos ela sentiu trabalhando a Orestéia, Ariane responde dizendo: "(...) Me sentia como o coro, espantada e fascinada. Enferma e curada. (...) Quando se põem em cena as grandes obras, se abre a caixa onde fermenta uma sensualidade, um erotismo extremadamente forte, onde esperneiam todos os demônios." Pascaud vai mais fundo e lhe questiona: "O que é tragédia?". Ariane responde: "É um erro fatídico. Um raciocínio equivocado, um erro de escolha. O momento terrível em que nos vemos obrigados a escolher entre o "detestável inevitável" e o "desejável perigoso".
Mais adiante, Minouchkine diz que o ator "é um mergulhador que submerge no fundo da alma, recolhe as paixões, as traz para a superfície, as raspa, as penteia, as entalha, para convertê-las em sintomas físicos. Metaforiza o sentimento. Só então as imagens provocam emoção." Tece um elogio aos atores orientais e explica brevemente porque utilizou da dança balinesa e do kathakali hindu na encenação.  Depois o assunto se volta para o coro e termina com uma reflexão da Ariane sobre o ator trágico: "Que é um ator trágico ou uma atriz trágica? É aquele ou aquella que não sucumbe diante do peso, diante deste suposto peso do trágico. Igual que Ifigênia que é capaz de dançar antes de morrer. Que deve dançar antes de morrer."

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