segunda-feira, 30 de novembro de 2009

SOLOS TRÁGICOS - JUSTIFICATIVA 2



Encarando de frente o propósito de responder qual o sentido da tragédia na contemporaneidade, e acreditando que em seu sentido existencial o discurso trágico é sempre atual, comecei a procurar que sentimento nos une, já que Nietzsche, já no século XIX, decretou a morte de Deus. Instado por minha orientadora, passei a buscar uma resposta para a uma questão mais especifica: qual o grande mal que nos aflige? Qual seria o maior temor instaurado em nossos inconscientes pós-modernos, tendo vista a desagregação religiosa? Qual seria a possibilidade de ruptura que mais mexe com a nossa insegurança? Se na antiguidade grega temíamos os deuses, o que tememos agora?

Algumas respostas se impõem. Tememos as guerras. Tememos as ações terroristas. Tememos as balas perdidas e os ataques dos traficantes. Tememos mais que tudo a possibilidade de enfrentar a morte. Tememos a fatalidade, tudo aquilo que não podemos controlar. Tememos cada vez mais a natureza. E acima de tudo, tememos nossa própria condição efêmera.
Um dos oito atores envolvido nesta pesquisa, Marcelo Adams, me apresentou duas obras de dois diferentes autores que caíram como uma luva para dar sustentação teórica ao projeto. Trata-se de “A Violência e o Sagrado” de René Girard, e “O Instante Eterno”, de Michel Maffesoli. Ambos franceses, o primeiro, antropólogo e pensador, o segundo, professor de Sociologia. Girard traça um original estudo da violência, da vingança e do sacrifício. Maffesoli defende a tese de que existe uma aproximação, um retorno do trágico em nossas sociedades contemporâneas.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

DESABAFO CONTRA A UFRGS


As opções de salas para ensaio que o DAD/UFRGS oferece é a pior possível. Além, dos congestionamentos ocasionados pela demanda de trabalhos de alunos, têm-se para trabalhar salas pequenas, sem som, sujas e mal cheirosas. A iluminação ambiente das salas é a pior possível. Como disse um colega: "iluminação de açougue". Luminárias de lâmpadas fluorescentes é a única opção. Lâmpadas com dimer de potência nem pensar. O barulho, ou melhor, os barulhos, que fazemos para os outros e com que os outros nos bombardeiam, vão e vêm de todos os lados. Não existe concentração que resista. Nem a Usina consegue ser pior que o DAD. Trabalhei durante dez anos de maneira independente e mantive espaços muito melhores de trabalhar do que a melhor das salas do DAD/UFRGS.
A porta que aparece na foto, não é uma porta, é um buraco entre uma sala e outra. Às vezes o buraco é fechado com um tapume qualquer que teima em cair sobre os atores. Às vezes fica assim, aberto, e o trabalho que acontece numa sala interfere diretamente naquilo que se passa na outra. Uma vergonha.
A UFRGS, que dá tanta importância à cultura quando lembra de arrecadar dinheiro através de leis de incentivo para recuperar seus valiosos prédios antigos, é a mesma que esquece da cultura quando se trata de destinar verbas para melhorar as condições de trabalho dos alunos do seu miserável curso de teatro.

domingo, 1 de novembro de 2009

SOLOS TRÁGICOS - O ESPAÇO



Comecei o trabalho pensando em realizar a peça para palco italiano. O Teatro Renascença, por exemplo, que é o melhor teatro que eu posso almejar. Mas, a partir de conversas com os atores, eles manifestaram a vontade de apresentar o espetáculo num espaço alternativo. Também, de acordo com a concepção que vem se formando no grupo, tudo aponta para a utilização de um espaço não-convencional. Para mim não se trata de novidade. Aí, fui olhar o lugar que aparece na foto, e que foi sugerido pela Petit. Lindo lugar! Fica ao lado da Usina do Gasômetro. Realmente, o espaço oferece amplas possibilidades para o espetáculo, além de ser um lugar encantador. Como o lugar "pertence" ao Cais do Porto, o primeiro passo será convencê-los a nos emprestar o espaço para a realização da peça. Em "O Pagador de Promessas" tivemos que ir ao Bispo para conseguir a Igreja das Dores. E agora? Bem, de qualquer maneira, o lugar é isolado e sem nenhuma utilização. Não vejo porque poderiam negar a autorização. Mas... nunca se sabe. Esperemos a resposta enquanto nos preparamos para a aventura.

SOLOS TRÁGICOS - PREPARAÇÃO CORPORAL



A professora Marta Isaacsson, orientadora deste projeto, chamou minha atenção para o fato de que necessitávamos de um trabalho de preparação corporal, visto que a disparidade de procedimentos e conhecimentos entre os atores era notória.
De fato, desde o início do projeto eu havia pensado nisso, tanto que procuramos a professora Inês Marocco e a convidamos para participar do projeto ensinando-nos técnicas corporais que unificassem nossos saberes em relação ao corpo do ator e a própria tragédia. Mas, mesmo sendo professora do DAD, ela cobrou um preço muito alto e, dessa maneira, inviabilizou a realização do trabalho.
Fomos atrás de outros nomes que estivessem mais dispostos a colaborar com o processo. Conversamos com Jezebel de Carli e com Tatiana Cardoso, mas as duas estavam cheias de compromisso.
Chegamos, então, ao professor Carlos Gontijo. Mineiro, oriundo da Unicamp, atualmente dando aulas no DAD/UFRGS. Conversamos brevemente sobre o projeto e sobre seus interesses pessoais em teatro. Ele me falou que pesquisava sobre tragédia e que já havia trabalhado com o assunto. Percebi que ele tinha material para nos auxiliar na busca do corpo trágico. Mostrou-se logo acessível e interessado. Negócio fechado: eis o nosso preparador corporal.