quarta-feira, 30 de setembro de 2009

SOLOS TRÁGICOS - SELEÇÃO DE ELENCO


Uma das primeiras e principais dificuldades desse projeto é formar um elenco. Depois de trabalhar durante quase dez anos com um núcleo que era formado, mais ou menos, com as mesmas pessoas, tenho que reunir
um grupo competente para seguir comigo numa busca completamente escura, obscura. Apenas uma vaga idéia.
Daí, que, mais uma vez, recorro a tal seleção de elenco para procurar os oito atores que vão compor o dito cujo. Fiz a mesma coisa para selecionar um grupo para fazer a peça infantil O Que Seria do Vermelho se não Fosse o Azul. Deu um grupo bacana. Acho que fizemos um trabalho legal. Mas, agora é outra coisa. É um trabalho que nescessitaria um processo longo. A grana é curta. O cronograma é apertado. O elenco tem que dar certo. Não sei se a seleção é o melhor processo. Também não faço isso pra aparecer. Mas, não sei que pessoas convidar, nem como convidar pessoas. Fico tímido. Penso em pessoas, olho pessoas, e não sei a quem convidar. Então, vou pra seleção de elenco.
Já tenho 35 pessoas interessadas em participar do processo que é composto por uma entrevista, fatal e eliminatória, e uma oficina com três horas de duração.
Como sempre, todo processo já começa atropelado por falta de decisão minha. Mas, eu tinha que encontrar por onde começar e, ainda, esperar o Porto Alegre em Cena passar. Parece que ter criado este blog deu o impulso inicial que faltava.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

"LES ATRIDES" - ARIANE MNOUCHKINE


Ariane Mnouchkine, em entrevista a Odete Aslan (traduzido para fins didáticos pela Profa. Dra. Marta Isaacsson), conta um pouco sobre sua encenação chamada "Os Atridas" (1990). Lá pelas tanta ela diz o seguinte: "Talvez estivéssemos naquela épocaa um nível de jogo menos permeável que agora. Quando o ator progride, ele torna-se ao mesmo tempo atlético na performance corporal, e mais frágil. Ele nao reforça somente seu corpo, ele chega a esfolá-lo. Um fluxo nervoso passa visivelmente no corpo dos atores. O  teatro é a arte do "sintoma". O ator é aquele que sabe mostrar os sintomas de todas as doenças da alma. Ele tem por tarefa submetê-las em seu corpo e mostrá-las. Os espectadores as reconhecem em suas próprias paixões. A fim de mostrar os sintomas, o ator aceita ter a febre. Os personagens trágicos são na angústia até as entranhas, os coros das Coéforas está cheio de ódio e grita vingança. É preciso abraçar as obras e ir até o fundo. empurrar até o fundo o sentimento interior e a forma exterior. Então nasce a emoção e a catarse se produz. O coro é muito importante, da mesma forma a energia vital que ele representa.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

SOLOS TRÁGICOS - PINTURAS


Minha cara orientadora, Profa.Dra. Marta Isaacsson, me instigou a pensar sobre as imagens que venho escolhendo para  trabalho, "buscando identificar as idéias despertadas por elas". Então, fiz esta colagem acima pra todo mundo pensar sobre isso. Claro, também estou pensando. Teentando absorver o espírito que as une. Algumas tratam especificamente de personagens: Ájax, Rei Lear, Ifiginênia. Outros se relacionam com o assunto tema. Algumas são composição pictórica e arranjos humanos, cores, estímulo visual. Quando as olho penso, muitas vezes, no coro, mas também no astral geral da criação cênica.

FILMES TRÁGICOS




Neste final de semana assisti dois filmes "trágicos".
As Troianas, filme de Michael Cacoyannis, de 1977, baseado na peça de Eurípedes. O mesmo diretor fez também um filme chamado "Ifigênia" (em Aulis), outra tragédia escrita pelo dramaturgo grego. Em As Troianas, a gente só aproveita alguma coisa do trabalho da atriz que faz a Cassandra, Genevieve Bujold, atriz franco-canadense, nascida em 1942. Hécuba, vivida pela atriz norte-americana Katharine Hepburn, já coroa, faz a interpretação "trágica" que se espera mas com muita nobreza. Mas a gente, do nosso tempo, acha que ela é uma tremenda canastrona. A inglesa Vanessa Redgrave, linda, com trinta e cinco anos é Andrômaca. Faz um trágico forte mas também antigo. Acho que as duas caem no melodramático. Vou conversar com minha orientadora sobre isso. E tem Irene Papas, atriz grega, belíssima, gostosíssima, ainda jovem, corpão, no papel da bela Helena, a víbora sedutora, que levou os gregos até Tróia causando sua destruição total. Tem um bifão no filme e toca diversas vezes em notas trágicas, embora algumas sejam bastante "cartas".

O outro filme era "Rei Lear" do nosso caríssimo William, produzido, dirigido e atuado por ele, o único, o meu amigo: Sir Laurence Olivier, meu longinquo o tio. É claro que ele é o próprio. A idéia central é muito boa: a locação é Stonefhenge, simplesmente o cenário do filme é o monumento megalítico da Idade do Bronze. Aí fica o castelo e a propriedade inteira deste Lear. O reino todo é Stonehenge, que localiza-se na planície de Salisbury, próximo a Amesbury, no condado de Wiltshire, no Sul da Inglaterra.

As interpretações são caretéssimas. Made in London. Todo pessoal é ou foi da Royal Theatre Academy, ou algo parecido. Mas, se aprende uns truques. Vale a pena ultrapassar a fase do sono, depois a da xaropada, e assim por diante até o final emocionante, quando o Tio Oliveira entra com a filha Cordélia (a atriz shakespereana Anna Calder-Marshall, nos braços.
Chamou minha atenção que ambos os filmes eram cristãos. Quer dizer, quando eles olhavam pra cima falando com deus, parece que estavam falando com este Deus católico que conhecemos e não com Zeus ou qualquer outro entre os deuses gregos, ou dirigindo-se a um deus ou entidade do universo imaginário medieval.   

sábado, 26 de setembro de 2009

O PROJETO - OBJETIVOS


Ilustração: The Nightmare (O Pesadelo), Henry Fuseli, 1781
Acredito que o homem mantém uma essência imutável. Será possível, então, encontrar um conteúdo e uma forma que toque nesta essência através de uma vivência teatral concreta? É possível fazer o espectador moderno sentir algo como piedade e terror? Experimentar o sentimento de compaixão, a que era levado o público daquelas épocas? Como deve ser a interpretação do ator-trágico? Dizer ator-trágico não sugere uma especialização carregada de preconceitos?
O presente trabalho pretende dedicar-se na investigação dessas e de outras questões mais diretamente afeitas a relação diretor/ator, onde o primeiro tem como ofício orientar o segundo a alcançar a plenitude (harmonia, precisão e beleza) na comunicação das emoções e idéias contidas no texto que será apresentado ao público, efetivando, assim, o acontecimento teatral. Investigando tanto na literatura disponível, quanto na prática cotidiana dos ensaios, este projeto pretende estabelecer e sistematizar um conjunto de procedimentos, fixar um sistema de exercícios, um repertório de propostas e ações que facilite ao diretor orientar os atores, desde o aquecimento corporal até a composição do papel, da preparação dos processos pré-expressivos e impulsos interiores até a expressão artística e comunicação do fato teatral, culminando com o desempenho à contento de sua tarefa como intérprete.
A partir disso, destaco os seguintes objetivos:

• Criar uma poética-teatral que contextualize a experiência trágica e coloca-la num espetáculo levado a público.
• Encontrar procedimentos técnicos para conduzir o ator em papéis trágicos.
• Auxiliar o ator, através de exercícios e propostas de ensaio, a encontrar uma forma cênica para expressar os conteúdos e sentimentos contidos numa tragédia.
• Pesquisar como quebrar as atitudes pré-concebidas quando o assunto é tragédia, tentando responder: Como deve ser a interpretação do ator-trágico? Dizer ator-trágico não sugere uma especialização carregada de preconceitos?

RECURSOS MATERIAIS



Como acompanho, mais ou menos frequentemente, as peças de conclusão de curso do DAD, sei muito bem da pobreza crônica que as tais montagens padecem. Assim, enviei meu projeto para a FUNARTE e ele foi contemplado com a vultousa fortuna de 30.000 reais que deverão ser pagos até o final de outubro. Trinta mil reais é um absurdo. É determinante no resultado e na satisfação pessoal e profissional alcançada. Como competir com o teatro do eixo nos festivais internacionais trabalhando com orçamento de 30.000?
Bem, mas a realidade é esta.
Assim sendo, o Projeto Solos Trágicos, que será produzido pela Associação Cultural Depósito de Teatro, vai contribuir mensalmente (outubro, novembro e dezembro) com uma ajuda de custo no valor de 300 reais para cada ator. Obviamente, sei que se trata de uma quantia miserável, mas isso representa um terço do orçamento.
O restante da grana vai servir para cobrir os gastos com a própria peça: figurino, cenário, iluminação, etc. Ainda quero trazer algumas pessoas para realizar rápidas oficinas pertinentes ao assunto.
Aos poucos a gente vai esmuiçando o orçamento e estrangulando nossas idéias para que caibam dentro de 30 mil reais. Ou consegue-se um(a) produtor(a) maravilhoso(a) que nos arranje um belo patrocínio.
Saravá!

CRONOGRAMA DE ENSAIOS


Ilustrução: The Three Wicthes, Henry Fuseli, 1783.
Os ensaios começam no dia 5 de outubro.
O cronograma está aí embaixo.
O espetáculo deverá estrear entre 14 e 18 de dezembro de 2009.
No total, a peça vai ter, arredondando, 60 ensaios.
 
Na primeira semana haverá um seminário teórico sobre tragédia e trágico.
Leitura obrigatória é o capítulo sobre tragédia do livro O Sentido e a Máscara, Gerd Bornheim.
Também serão convidadas algumas pessoas para palestrar sobre estes assuntos e outros relacionados a modernidade. Alargando as fronteiras dos pensamentos.

O PROJETO - INTRODUÇÃO


Ilustração: Sleeping Venus, Paul Delvaux, 1944
Com base numa pesquisa teórico/prática, me proponho a encontrar uma poética para mostrar, com atualidade, a evolução da tragédia, desde os gregos até os nossos dias, e propor isso num espetáculo chamado
SOLOS TRÁGICOS
que será composto de solos baseados em trechos de tragédias de Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Willian Shakespeare, Jean Racine, August Strindberg, Eugene O’Neil, Nelson Rodrigues, Heiner Muller, Koltés, Vinaver.
Desde a fase de produção até a estréia da peça, este projeto tem como função investir em procedimentos que conduzam o ator na construção de um papel trágico, seja na condição de solista (herói) ou participante do coro. Este conjunto de procedimentos será pesquisado, tanto na literatura disponível, quanto na prática cotidiana dos ensaios.
Minha proposta é trabalhar com trechos de tragédias. Com base nos argumentos de Raymond Willians, em Tragédia Moderna, chamo de tragédia, não só a tragédia grega, mas estendo esta denominação para a tragédia medieval de Marlowe e Shakespeare, e àquelas peças, que Raymond Willians chama de tragédia burguesa, tragédia liberal,tragédia social, etc, que são os “dramas altamente trágicos” de épocas diferentes da evolução humana. Chamo também de tragédia as chamadas peças míticas de Nelson Rodrigues.
Estes excertos funcionarão como árias, no sentido de que devem exprimir o sentimento inspirado pelo assunto da obra, e também porque serão desempenhados em solos. Os extratos selecionados são de obras e autores muito conhecidos do público, portanto não apresentarão maiores dificuldades para obterem a compreensão e, de mais a mais, a idéia que norteia este projeto é de pesquisar didaticamente um material prático para a direção de atores em papéis trágicos. Então, teremos a tragédia grega (Ésquilo, Sófocles e Eurípedes) o drama elisabetano (Marlowe e Shakespeare), o drama neo-clássico francês (Racine), o drama brasileiro (Nelson Rodrigues) e amostras do drama contemporâneo (Koltès e Vinaver).
Assim como os textos são de autores diferentes, quero trabalhar com um grupo de oito atores, também de diferentes idades, sexo, experiências teatrais e fases de desenvolvimento artístico.
Creio que posso afirmar que o momento é oportuno para uma proposta teatral ligada a pesquisa na área da tragédia clássica. O momento humano, a ambivalência, o perverso ritmo alucinado do tempo, a violência generalizada, a banalização de todos os sentimentos, a fúria dos castigos naturais, a miséria cultural/informatizada a que chegamos, parecem nos forçar a procurar respostas em antigas tradições, como se quiséssemos investigar onde foi que perdemos o fio da meada. Parece que se torna necessária, ao homem dos nossos tempos, uma mirada ao passado, respirar uma golfada de ar vindo de outros tempos, de tempos em que a presença e crueldade dos deuses era intoleravelmente presente o tempo inteiro e para todos. Para o bem e para o mal, sem piedade nem maniqueísmo.

JAQUES LECOQ FALA DE TRAGÉDIA



No terceiro volume de uma coleção chamada Dramaturgia Francesa Contemporânea, cujo título é O Corpo Poético - Uma aula sobre a Criação Teatral, tem um pequeno capítulo sobre a Tragédia. Lecoq começa dizendo o seguinte: "a tragédia é o maior território dramático existente, mas é também o maior teatro que fica por fazer." Depois de discorrer sobre a importância de se re-inventar uma tragédia atual, Lecoq assinala dois elementos que estruturam a tragédia: o coro e o herói. E descreve a cena:
Um coro entra em cena ao som de percussões que dão um ritmo ao coletivo. Ocupa todo o espaço, mas logo se retira para um dos lados. Ao fazer isso, libera um novo espaço e cria uma espécie de chamado ao herói. Mas, quem pode vir a ocupar este espaço? Que equilíbrio pode ser encontrado hoje entre o coro e o herói?
Lecoq propõe um exercício: "Nós imaginamos uma grande praça (...) e pedimos a um aluno que atraia a atenção dos outros com todos os meios possíveis. Quando consegue, deve convencê-los da importância de um tema polêmico sobre o qual ele defende um ponto de vista em que acredita. Por exemplo, contra ou a fovao ao aborto, sobre a imigração, sobre energia nuclear, etc. A natureza do discurso importa menos do que a capacidade do ator para captar seu auditório."
Num segundo momento entra um segundo ator que se cotrapõe ao primeiro. Depois, formam-se dois grupos se formam para ouvir os oradores e dão inicio as premissas do coro.
Lecoq, como outros autores, destacam a importância do coro: "O coro é um elemento essencial, o único que permite liberar um verdadeiro espaço trágico." Acredita que o coro está sempre reagindo aos desenrolar da ação e, então, propõe exercícios para buscar uma reação-coro. Aconselha a buscar um centro de gravidade, uma respiração e também, a tomar diferentes formas segundo a situação em que se encontra. Mais adiante sugere que o coro seja formado por sete ou por quinze atores e justifica o porquê destes números. Do alto de sua experiência determina que: A grande lei do coro trágico é a de não estar nunca do lado da ação, e sim, sempre da reação."
Quase ao final do texto, Lecoq fala em "movimentos trágicos da natureza", e como não explica bem isso, devo pesquisar a exatamente que movimentos ele se refere. Vou transcrever o último parágrafo porque ele resume o conjunto do pensamento de Lecoq sobre o coro trágico:
O grande risco é chegar ao coro militarizado, demasiadamente organizado, limpo, líquido (límpido), no qual todo mundo marcha conjuntamente, porém sem vida. (...) O coro é a ordem do movimento".

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

SOLOS TRÁGICOS - AS PEÇAS


Já deveriam estar definidas, mas ainda não estão. ainda estou lendo textos e escolhendo quais formarão o espetáculo. Mas, estão na lista: 
Àjax e Antígona de Sófocles
Prometeu Acorrentado de Ésquilo
Medéia, Ifigênia em Aulis e Electra de Eurípedes
Ifigênia de Racine
Rei Lear, Macbeth, Hamlet e Romeu & Julieta de Shakespeare
Dança da Morte de Strindberg
As Moscas de Sartre
Longa Jornada Noite Adentro de O'Neill
Senhora dos Afogados e Anjo Negro de Nelson Rodrigues

Ilustração: King Lear and the Fool in the Storm, de William Dyce (1806-1864) Escocês



quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PENSANDO NO ELENCO

Pintura: A Embaixada de Aquiles, Jean Auguste Dominique Ingres, 1810. Imagem de Carol Gerten's Fine Art. Composição: distribuição dos corpos, oposições, escolha das cores. Entre estes personagens está Ájax.


Tenho me preocupado constantemente com a formação do elenco. Quem? Quens? Fui, então, pensando em algumas pessoas, levado pela intuição e relacionei-as, por algum aspecto subjetivo, com alguns dos personagens que farão parte do espetáculo. Penso em pessoas que encarariam um trabalho físico puxado, que tivessem disponibilidade de tempo para se dedicar ao trabalho e, principalmente, que ousassem ir mais além daquilo que já fizeram e mostraram em suas carreiras e trabalhos anteriores.
A Elisa Heidrich poderia ser Ifigênia. Pele clara, juventude, virgem. Aspecto físico e aquilo que ela emana ou pode emanar. Além de ser minha atual companheira, já trabalhamos juntos e sei que posso confiar na sua obstinação.
O Diego Machado, poderia ser Ájax. Aspirante a ator da novíssima geração, tem o aspecto físico, a juventude, a força, a loucura e a energia necessárias. Tem também, em si, certo desamparo.
Lívia Dávalos poderia encarnar a Senhora Tyrone, a mãe viciada de Longa Jornada Noite Adentro. Outra possibilidade seria Clitemnestra ou a louca Medéia que mata os filhos. Tem maturidade. Aspecto físico. Momento de vida, ou melhor, como eu a vejo em seu momento de vida.
Outros nomes masculinos: Rodrigo Fiatt (seriedade no trabalho, honestidade), Lisandro Belotto (pelos trabalhos que vem realizando), Marcelo Adams (sempre, tem se mostrado um grande ator, disponível para várias linguagens), Daniel Colin (sempre, apesar de representar o passado), Roberto Oliveira, eu mesmo, para fazer o Rei Lear, se não fosse o medo exagerado da confusão que pode gerar dirigir e atuar. Melhor não. Seria dobrar as dificuldades e os temores. Kike Barbosa, Sérgio Lulkin, Serginho Etchichury.
Nomes femininos: Arlete Cunha e Liane Venturella seriam luxos. A Liane estava com o nome no projeto, mas está fazendo outra peça. Melissa Dorneles (força, potência, intensidade), Áurea Baptista (força, maleabilidade, momento de vida), Isandria Fermiano e Manuela Wunderlich (por seus desempenhos em Fando e Lis). Pensei também na Rafaela Cassol, tem força, mas parece estar pulsando numa outra onda. Têm tantas boas atrizes.
Como é difícil buscar nomes.

EU E BOB WILSON


Ontem assisti Quartet, do Bob Wilson. Fiquei mais inquieto ainda. Inquieto, no sentido de me inquirir sobre o sentido de fazer teatro. Pra quê fazer? A cada momento da peça eu me deparava com a minha própria mediocridade e com a mediocridade das coisas feitas aqui em Porto Alegre. Ao mesmo tempo em que a peça me enchia os olhos, o coração e a alma de beleza e encantamento, eu sentia um enorme vazio ao me deparar com o amadorismo e pobreza do teatro portoalegrense. Tenho 30 mil reais pra fazer uma peça. Que peça pode resultar daí? De acordo com Lehmann* "ele (o teatro) se destaca por um peso material especialmente oneroso em recursos e meios." Estou cansado de fazer teatro de baixo custo. Nosso teatro tem a obrigação de explodir em idéias, exceder em criatividade, para mal encobrir sua pobreza de recursos. O teatro de Porto Alegre padece da falta de recursos. O município acha que faz muito e não investe no equipamento dos seus teatros. O estado está de costas para a cultura. A UFRGS, que capta recursos das leis de incentivo à cultura para e recuperação e conservação de seus prédios, de inestimável valor arquitetônico, diga-se de passagem, não faz nada para melhorar as condições técnicas dos seus teatros e propiciar que nós, alunos, possamos experimentar as mesmas possibilidades técnicas dos espetáculos que frequentam, por exemplo, o Salão da Atos desta mesma universidade tão moderna e conceituada em algumas áreas, e tão tacanha em outras. O governo federal destina recursos que não contemplam nem de perto o número de projetos que recebe em seus editais. Trabalhamos sempre com orçamentos baixíssimos. O Fumproarte sempre amarra os projetos a valores tão estreitos quanto a sua própria mentalidade. O SESC não contrata peça com muitos quilos no cenário. Com muitos atores no elenco. Os festivais preferem os monólogos. Quantos quilos de carga constavam na produção de Quartet? Fala-se num custo total de 400 mil reais para pagar sua vinda. Quantas pessoas vieram a Porto Alegre? Cinco atores e mais quantos técnicos?
Fico aqui divagando enquanto devia estar lendo. Começo a ler e sinto muito sono. Acabo dormindo mesmo. Se eu já percebia que estava fugindo dos problemas antevistos para criar este novo espetáculo, agora então as coisas pioraram um pouco.
A ilustração: Ájax, de Henri Serrur, 1820.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

SOLOS TRÁGICOS - ORIGEM DO PROJETO


Em 2008, na disciplina Projeto de Estágio, tive que inventar um projeto. Naquele momento, pensei em trabalhar com tragédias, mais especificamente com textos retirados de tragédias e apresentados como pequenos solos. Fiz o projeto para o DAD, e para aproveitar que estava pronto, mandei o mesmo projeto para um concurso da Funarte. Pois não é que foi aprovado. É óbvio que fiquei muito feliz e somente agora estou me dando conta de que é uma grana muito curta para fazer uma peça de teatro.
Mas a angústia e a paralisia que me acometeram, residem no fato de que não sei por onde começar. São muitas questões sem resposta circulando pela minha cabeça. Sinto-me tateando no escuro, procurando algo ou alguma coisa para me agarrar e considerar um começo.
O projeto é complicado porque pretende trabalhar com várias peças, com as tragédias através do tempo, dos gregos à Nelson Rodrigues, pegando apenas a parte mais trágica de cada peça e transformando isso numa ária, um solo de um ator. Como reunir cinco ou seis momentos trágicos num único espetáculo sem que isso vire uma chatice para o espectador?
Esta peça será também meu trabalho de conclusão, ou melhor, de graduação, no DAD. Tive a sorte que a professora Marta Isaacsson aceitou orientar o trabalho. É importante ter uma boa orientação. Pensei muito entre ela e o professor Irion. Cheguei a tirar cartas do tarot para enxergar mais claramente os prós e contras de cada um. Foram duas cartas boas. Mas a carta da Marta era a mais forte, mais completa. Acho que ela tem uma visão aberta e um amplo entendimento sobre o fazer teatral.
Quanto a mim, sinto-me mais maduro, mas, ao mesmo tempo, mais temeroso para encarar o trabalho. Um freio de mão breca a arrancada inicial do trabalho. O medo.
Talvez este seja o barro que nos une.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE O TRABALHO



Estou apavorado. Tateando. Tentando encontrar por onde começar. Muitas vezes senti esta sensação de não saber por onde começar, mas nunca tão forte quanto desta vez. É, para mim, uma proposta nova trabalhar sem um determinado texto. É claro que os textos existem, mas eles deverão ser colocados, unidos, colados de alguma forma que nem imagino qual será.
Outro problema é com quem contar. Agora que não tenho mais o elenco do Depósito de Teatro, terei que convidar atores e atrizes "avulsos". Quem? Tenho aproveitado o PoA em Cena para olhar atores e atrizes pensar a respeito. Penso que deveria definir exatamente as peças antes de convidar as pessoas, pois a partir dos textos eu poderia traçar um perfil mais aproximado do elenco a ser convidado. É certo que tenho de definir um pouco mais o projeto para poder convidar as pessoas. Quanto mais penso no projeto que inventei, mais me dou conta das dificuldades e da grande possibilidade de tudo virar uma chatice. São várias dificuldades que se apresentam. A mais visível é a seguinte: como juntar um punhado de clímaxes de tragédias sem que isso fique tedioso para o público? Ao criar e desenvolver o projeto tudo me parecia simples. Agora que parto para a prática, como sempre, as coisas se complicam.

A foto do Sétimo Selo, do Bergmann é inspiradora. O Bergmann é inspirador pela profundidade a que se dedica em cada uma de suas obras.