quinta-feira, 28 de outubro de 2010

SOLOS TRÁGICOS NO CAXIAS EM CENA 2

Enquanto aguardamos respostas de alguns festivais, que decidirão o destino da peça, seu final com, talvez, umas vinte apresentações, publico no blog algumas fotos do espaço onde a peça foi realizada na abertura do Caxias em Cena. Na coluna ao lado estão outras duas.
A Coordenação do festival optou em apresentar para o público caxiense, o espetáculo em sua forma original, ou seja, num espaço não-convencional ao ar-livre. Um espaço que contivesse a idéia central do espetáculo: tudo se passa como se tivesse acontecido um hipotético desastre natural. O espaço deve contribuir neste sentido, permitindo-se ser teatralizado, especularizado, receptivo ao contato do espetáculo. A peça fecunda o espaço que fecunda a peça. A peça transforma um espaço "qualquer" num espaço teatral, dignificando o local. O espaço oferece suporte à verossimilhança do espetáculo.
Em janeiro deste ano, quando estreamos o espetáculo numa área do Cais do Porto, entre a Marina Pública e a Usina do Gasômetro, interferimos cenograficamente no local. Construímos um túmulo e um altar. Colocamos quase 10 toneladas de grandes blocos de concreto e ferros retorcidos.
Aliás, abrir parêntese, trata-se de um local completamente abandonado pela administração do Cais e em litígio de posse entre eles e a adminstração da Usina do Gasômetro que pretendia tomar para si a responsabilidade de adotar a área em questão e dotá-la de atividades, tais como um escola de circo que, entre outros atributos, atenderia crianças em situação de risco. O Cais, parece, venceu o conflito, e pretende vender a área para grandes corporações que vão lotear todo aquele local junto a Marina Pública, e, ao que dizem, o porto inteiro, transformando tudo em shopping, restaurantes e congeneres (a vantagem de não saber se tal palavra perdeu ou não perdeu o acento, é que sei que ninguém sabe também). Fecha parêntese.
Em Caxias, as portas dos galpões foram arrancadas e transformadas em entulhos de uma possível explosão ou desabamento. O lugar ficou perfeito. Certamente, ambos se beneficiaram: o espaço e a peça.  

sábado, 9 de outubro de 2010

E AGORA? É O FIM?


Dúvida cruel. Da saudade só de pensar em não fazer mais a peça. É difícil lidar com este tipo de morte prematura de um projeto. Estamos inscritos em alguns festivais, então, sabe se lá o que vai acontecer. E se formos classificados? Será que todos poderão fazer? Como andarão as agendas?
Aqui em Porto Alegre, a peça somente teria chance de uma nova temporada se fosse no espaço do Cais e subsidiada pela prefeitura, pelo sesc, etc. Nossa apresentação no EmCena não pode ser assistida pelos gestores de outros festivais porque nenhum deles estava aqui no começo. Ninguém escreveu sobre a peça porque ninguém estava escalado para escrever sobre ela. Bom, vamos parar com a choradeira e torcer para que a peça passe em algum festival e a gente possa continuar apresentando por aí.
Na foto de Vilmar Carvalho, Elisa Heidrich.

BRASKEN DE MELHOR ATRIZ

FERNANDA PETIT foi escolhida a melhor atriz/bailarina da quarta edição do prêmio Braskem. Dez ou onze peças concorrem entre si, nas categorias melhor espetáculo, melhor diretor/coreógrafo , melhor ator/bailarino, melhor atriz/bailarina, e a Petit faturou, merecidamente, diga-se de passagem, o troféu de melhor atriz. 
Fiquei muito orgulhoso por ela  e por ter ela no espetáculo. Teve um longo momento em que o Marcelo Adams, que depois saiu da peça, dava o caminho da interpretação da peça. Daí, ele teve um acidente e ficou alguns ensaios de fora. A Petit foi quem assumiu a liderança. Quem parecia entender onde eu queria chegar e apontava o caminho da peça. Ela é, realmente, atriz e bailarina. A nossa bailarina sem uma perna que insiste em dançar. Parabéns, Petit.
Pra um projeto que eu nem sabia como começar até que estamos indo longe.
Quanto ao tal prêmio Braskem, eu sou da opinião do João de Ricardo, e me senti uma besta não tendo falado isso no depoimento que, como participante, fui obrigado a conceder. Me senti constrangido a falar bem da Braskem. Mas, o João falou que prêmio em dinheiro oferecido pela referida empresa, deveria ser dividido entre os "competidores". Eu penso que a referida empresa e a direção do EmCena deviam colocar as dez peças selecionadas pela comissão do EmCena, como o que há de melhor na produção porto-alegrense ou gaúcha do ano em questão e pagar um cachê bem melhor, mais digno, para cada espetáculo. Um cachê de verdade. E, além disso, gostaria que cada peça fizesse pelo menos três apresentações, para que mais pessoas tivessem oportunidade de assistir as peças, valorizando mais os espetáculos locais, e também para que o cachê pudesse ser triplicado. 

NÚMERO 26 - CAXIAS EM CENA

A foto é do Vilmar Carvalho. Na foto, Lucas Sampaio, o Prisioneiro. O solo do Lucas saiu da peça Cruzadas de Michel Azama.

Pois, apresentamos em Caxias. Nossa viségima-sexta apresentação. Na rua. E não choveu. Fomos atenciosíssississimamente, bem recebidos pela Magali Quadros e Ângela Lopes, Coordenadoras do Festival, e pelo sorriso afável do João Tonus, secretario da cultura interino. É como se o Luciano Alabarse fosse o nosso anjo. E o Sergius Gonzaga nosso produtor de palco. Todas as coisas que pedimos estavam lá. Maravilha.
Como a peça trata com algumas poderosas energias contidas na tragédia, aconteceram algumas coisinhas que ameaçaram o desenvolvimento tranquilo do espetáculo, quase nada de comprometedor, pelo contrário, pelo menos um acontecimento, contribuiu enormemente para a eletrização da apresentação. Aconteceu de tudo: alguém disse que a arquibancada estava caindo e provocou um começo de debandada bem perigosa numa grande parte da platéia. O tempo virou. Durante o dia, estava completamente ensolarado, vento sul, uma brisa forte. No meio da peça, o vento virou uma ventania. A temperatura despencou e baixou o frio da serra. Um efeito de luz falhou. Deu problema na hora. E outras pequenas coisinhas.
Mas, um vizinho, que já pela manhã havia prometido invadir e interferir na peça, cumpriu a palavra, e aproximou-se e quase invadiu a área de atuação, o espaço dos atores. A coordenação de evento imediatamente chamou a guarda municipal e a brigada militar. Pois, a presença ostensiva da força policial, que ficou a vista do público, não só intimidou o vizinho, como contribuiu na atmosfera do espetáculo.
A apresentação foi linda. Comovente. Os espectadores aplaudiram com muita força no final. Talvez tenha sido a melhor apresentação da peça até o presente momento.
O cenário colaborou demais. Maravilhosos pavilhões caindo aos pedaços. Destruídos como se tivessem sofrido uma forte ação da natureza. Utilizamos a arquitetura do espaço do início ao fim da peça. A luz do João Dadico ficou muito boa. Efeitos de fogo e fumaça. E mais o tempo se transformando, as estrelas sumindo aos poucos, a noite escurecendo cada vez mais. Foi lindo. Vou conseguir umas fotos e colocar aqui no blog.
Em algum momento do dia, João Tonus me falou que todos aqueles velhos pavilhões de madeira serão transformados num museu contemporâneo e interativo. Algo como o Museu da Puc. Achei maravilhoso, mas mesmo assim eu lhe propus que cedesse pelos menos um daqueles prédios para o Depósito de Teatro e eu me transferiria pra Caxias imediatamente. Parece que a cidade, apesar do crescimento tremendo, ainda sabe tratar bem e admirar os seus artistas. Porto Alegre já perdeu há muito tempo o contato com isso.

APRESENTAMOS NO POA EM CENA

Por um problema de agendas entre os integrantes do grupo, o Teatro Renascença e a programação do EmCena, ficamos apenas com duas opções de datas para nossa apresentação. Tivemos que escolher entre apresentar com a Cláudia de Bem, nossa ilustríssima e importantíssima iluminadora, ou a presença do Arthur de Faria, um dos criadores-executantes da trilha sonora, que cá entre nós, é iluminada. Sentiram o drama? Escolhemos fazer com o Arthur, sabendo que fazer sem a Cláudia, seria um ponto contra. O primeiro prejuízo. Esta foi a sensação geral do grupo: é de que fomos prejudicados por este fato, e novamente,  ao nos colocarem na grade do Festival no segundo dia, "concorrendo" com  Bregovic, Goran para os íntimos, em sua segunda apresentação, e com a estréia do Tobari (Sankai Juku) e Happy Days, dirigido por ninguém menos que Mister Bob, o Wilson. 
Fizemos quatro ensaios antes desta apresentação. Três na SALA402 USINA (sim, o Depósito de Teatro faz parte do projeto Usina das Artes), e um, na véspera, no Renascença.
Os atores cresceram muito. Cada um deles desceu um degrau em direção ao âmago de suas interpretações. A apresentação foi quente. Cada solista foi elevando o nível de eletricidade (sinestesia) com os espectadores que permaneceram como que hipnotizados pelo espetáculo que requer sua atenção e inteligência a  cada momento, seja para descifrar os diversos códigos do espetáculo, seja para contemplar alguns momentos em que a cena se transforma em quadro. 
Amanhã tem mais: vamos apresentar a peça na abertura do Caxias em Cena, com duas grandes diferenças: lá vai ser ao ar-livre, num espaço não-convencional, como fizemos aqui na área do Cais; e vamos ser o único espetáculo da noite. Aliás, só para complementar, este foi o terceiro e maior prejuízo sofrido pela peça no PoA em Cena: a decisão de colocar a peça no teatro Renascença e não em seu local de origem na área do Cais do Porto. Decisão lamentável, principalmente se o fator determinante foi dinheiro. É óbvio que o espetáculo ficaria melhor. Se fosse um espetáculo "de fora" isso não aconteceria.

Foto de Vilmar Carvalho. Disputa de barrigas: Daniel Colin e Lucas Sampaio.