quinta-feira, 24 de setembro de 2009

EU E BOB WILSON


Ontem assisti Quartet, do Bob Wilson. Fiquei mais inquieto ainda. Inquieto, no sentido de me inquirir sobre o sentido de fazer teatro. Pra quê fazer? A cada momento da peça eu me deparava com a minha própria mediocridade e com a mediocridade das coisas feitas aqui em Porto Alegre. Ao mesmo tempo em que a peça me enchia os olhos, o coração e a alma de beleza e encantamento, eu sentia um enorme vazio ao me deparar com o amadorismo e pobreza do teatro portoalegrense. Tenho 30 mil reais pra fazer uma peça. Que peça pode resultar daí? De acordo com Lehmann* "ele (o teatro) se destaca por um peso material especialmente oneroso em recursos e meios." Estou cansado de fazer teatro de baixo custo. Nosso teatro tem a obrigação de explodir em idéias, exceder em criatividade, para mal encobrir sua pobreza de recursos. O teatro de Porto Alegre padece da falta de recursos. O município acha que faz muito e não investe no equipamento dos seus teatros. O estado está de costas para a cultura. A UFRGS, que capta recursos das leis de incentivo à cultura para e recuperação e conservação de seus prédios, de inestimável valor arquitetônico, diga-se de passagem, não faz nada para melhorar as condições técnicas dos seus teatros e propiciar que nós, alunos, possamos experimentar as mesmas possibilidades técnicas dos espetáculos que frequentam, por exemplo, o Salão da Atos desta mesma universidade tão moderna e conceituada em algumas áreas, e tão tacanha em outras. O governo federal destina recursos que não contemplam nem de perto o número de projetos que recebe em seus editais. Trabalhamos sempre com orçamentos baixíssimos. O Fumproarte sempre amarra os projetos a valores tão estreitos quanto a sua própria mentalidade. O SESC não contrata peça com muitos quilos no cenário. Com muitos atores no elenco. Os festivais preferem os monólogos. Quantos quilos de carga constavam na produção de Quartet? Fala-se num custo total de 400 mil reais para pagar sua vinda. Quantas pessoas vieram a Porto Alegre? Cinco atores e mais quantos técnicos?
Fico aqui divagando enquanto devia estar lendo. Começo a ler e sinto muito sono. Acabo dormindo mesmo. Se eu já percebia que estava fugindo dos problemas antevistos para criar este novo espetáculo, agora então as coisas pioraram um pouco.
A ilustração: Ájax, de Henri Serrur, 1820.

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