sábado, 26 de setembro de 2009

O PROJETO - INTRODUÇÃO


Ilustração: Sleeping Venus, Paul Delvaux, 1944
Com base numa pesquisa teórico/prática, me proponho a encontrar uma poética para mostrar, com atualidade, a evolução da tragédia, desde os gregos até os nossos dias, e propor isso num espetáculo chamado
SOLOS TRÁGICOS
que será composto de solos baseados em trechos de tragédias de Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Willian Shakespeare, Jean Racine, August Strindberg, Eugene O’Neil, Nelson Rodrigues, Heiner Muller, Koltés, Vinaver.
Desde a fase de produção até a estréia da peça, este projeto tem como função investir em procedimentos que conduzam o ator na construção de um papel trágico, seja na condição de solista (herói) ou participante do coro. Este conjunto de procedimentos será pesquisado, tanto na literatura disponível, quanto na prática cotidiana dos ensaios.
Minha proposta é trabalhar com trechos de tragédias. Com base nos argumentos de Raymond Willians, em Tragédia Moderna, chamo de tragédia, não só a tragédia grega, mas estendo esta denominação para a tragédia medieval de Marlowe e Shakespeare, e àquelas peças, que Raymond Willians chama de tragédia burguesa, tragédia liberal,tragédia social, etc, que são os “dramas altamente trágicos” de épocas diferentes da evolução humana. Chamo também de tragédia as chamadas peças míticas de Nelson Rodrigues.
Estes excertos funcionarão como árias, no sentido de que devem exprimir o sentimento inspirado pelo assunto da obra, e também porque serão desempenhados em solos. Os extratos selecionados são de obras e autores muito conhecidos do público, portanto não apresentarão maiores dificuldades para obterem a compreensão e, de mais a mais, a idéia que norteia este projeto é de pesquisar didaticamente um material prático para a direção de atores em papéis trágicos. Então, teremos a tragédia grega (Ésquilo, Sófocles e Eurípedes) o drama elisabetano (Marlowe e Shakespeare), o drama neo-clássico francês (Racine), o drama brasileiro (Nelson Rodrigues) e amostras do drama contemporâneo (Koltès e Vinaver).
Assim como os textos são de autores diferentes, quero trabalhar com um grupo de oito atores, também de diferentes idades, sexo, experiências teatrais e fases de desenvolvimento artístico.
Creio que posso afirmar que o momento é oportuno para uma proposta teatral ligada a pesquisa na área da tragédia clássica. O momento humano, a ambivalência, o perverso ritmo alucinado do tempo, a violência generalizada, a banalização de todos os sentimentos, a fúria dos castigos naturais, a miséria cultural/informatizada a que chegamos, parecem nos forçar a procurar respostas em antigas tradições, como se quiséssemos investigar onde foi que perdemos o fio da meada. Parece que se torna necessária, ao homem dos nossos tempos, uma mirada ao passado, respirar uma golfada de ar vindo de outros tempos, de tempos em que a presença e crueldade dos deuses era intoleravelmente presente o tempo inteiro e para todos. Para o bem e para o mal, sem piedade nem maniqueísmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário