domingo, 24 de janeiro de 2010

NASCERAM OS SOLOS TRÁGICOS



Como estava previsto no nosso cronograma de trabalho, dia 22, sexta-feira, lua crescente, estreamos os Solos Trágicos. Com a presença atenta da minha querida orientadora, Profa. Marta Isaacsson, sentada na primeira fila, a peça estreou com aquela habitual sensação de nervosismo de toda equipe envolvida no projeto. Uma agradável excitação provocada pelo momento único em que a obra criada é apresentada ao público. Temores, inseguranças, expectativas. Tudo contribui para gerar uma espécie de descarga extra de adrenalina, principalmente nos atores. Nada que não possa ser controlado já nos primeiros da apresentação.
O público, formado por quase 100 pessoas, foi conduzido para o espaço. Pareciam também excitados. Estavam felizes e receptivos. O ineditismo da proposta e a beleza e encantamento do lugar provocavam na platéia um saudável frisson. Logo após a cena de abertura, realizada de surpresa no meio do caminho, acomodaram-se rapidamente nas arquibancadas. E a peça começou. Os sobreviventes começaram a destacar-se dos escombros. Fatos recentes, como por exemplo, o terremoto ocorrido no Haiti, facilitaram o acesso ao imaginário e aos sentimentos da platéia. Os solos foram transcorrendo um após o outro. Pequenos problemas eram solucionados pelos atores. O público parecia atento. Somente no terço final da peça pude notar um certo cansaço da platéia, provocado mais pelo desconforto dos assentos e pelo frio noturno da beira do Guaíba, do que pela sucessão de cenas trágicas do espetáculo.     
Quanto a mim, acho difícil definir minhas próprias sensações. Fico calmo porque não sou eu que estou em cena e sei que não tenho como interferir diretamente na peça. Sinto uma tremenda inquietude. É para mim bastante difícil ficar sentado assistindo o espetáculo. Levanto, caminho, a cabeça à mil, tentando antecipar situações e enviar mensagens telepáticas de alerta ao atores. Aflição. Será que o público está gostando? Será que estão atentos? O espetáculo consegue atingí-los?
Somente no final, ao ouvir o vigoroso aplauso do público, é que nos acalmamos e tomamos conhecimento de algumas respostas às nossas expectativas: eles pareceram ter aprovado o espetáculo. 

3 comentários:

  1. Assistir a Solos Trágicos foi uma das melhores experiências de minha vida. A inquietude de Roberto Oliveira também foi compartilhada por mim. Claro que sob outra ótica. A todo instante uma euforia invadia minha alma e eu ficava perguntando... quem vem agora? Prometeu, com o falcão a comer-lhe o fígado? Lady Macbeth, assolada pelo seu desejo de vingança? Antígona? Rei Lear? A cada descoberta, a cada vislumbre apocalíptico, ficava arrepiado. O frio à beira do Guaíba e as constantes trovoadas de uma chuva que não vinha proporcionavam o ambiente perfeito para acompanhar cada instante desse trabalho maravilhoso. Um quero-quero em certo momento contribuiu para o trabalho de Arthur de Faria e até uma moto sendo ligada no pátio ao lado favoreceu a interpretação dos atores. Foi uma comunhão: de excelentes atores, de maravilhosa trilha sonora e de magnífica direção. Bom ter assistido. Maravilhoso ter a oportunidade de iniciar meu terceiro ano no DAD no curso de Direção tendo visto esse conjunto. Não senti incômodo, nem cansaço. Só prazer. Na forma mais absoluta possível. Ao final, embriagado por tudo o que vivera e havia sido testemunha, procurei o Roberto Oliveira em meio àquele caos: apertei-lhe as mãos e falei: PARABÉNS, MUITO BOM. Na real queria ter-lhe dito: MUITO OBRIGADO.

    Leandro Ribeiro
    Cia. de Teatro Gato&Sapato

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  2. eu me pergunto neste momento:tem como estra mais feliz com pessoas tão boas ao meu lado?
    dá orgulho sabe

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  3. Preciso registrar que realmente está sendo uma experiência inigualável em Porto Alegre: tanto para o público, quanto prá nós. Aprendizado todos os dias.

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